A resposta mais direta é: Não.
A psicoterapia é para todos que de algum modo querem cuidar da saúde mental. Algo simples e importante que deve ser avaliado por todo e qualquer ser humano.
Ninguém precisa estar gravemente adoecido para procurar um médico, certo? Com a psicologia não é diferente.
Afinal, o que é então a loucura? Do que o psicólogo realmente trata? Quais os limites dos comportamentos aceitos socialmente e do adoecimento psicológico?
Clinicamente observamos que há uma grande desinformação e dificuldade de identificação dos comportamentos quando são considerados parte da personalidade das pessoas, ou quando já podem ser considerados exagerados, sintomáticos, sinais de adoecimento psíquico. Nos deparamos com comentários do tipo:
“Ah, mas todo mundo fica triste, ele só está um pouco desanimado e preguiçoso faz uns meses, mas é uma fase que vai passar se ele tiver força de vontade...”;
“Ah, ela sempre foi assim, de gostar de comprar muita roupa, só agora que comprou umas dez sacolas a mais, mas é normal, é o jeito dela...”
Dessa forma, nota-se que é difícil a identificação por parte da população da gravidade dos sintomas - de quando a tristeza deixou de ser só tristeza e passou a exigir um cuidado mais próximo e especializado, ou quando o prazer em comprar roupa deixou de ser saudável e passou a ser desmedido e descontrolado, revelando um quadro que chamamos cientificamente de mania.
Esses fatores se desdobram para as situações frequentes que presenciamos em nossos consultórios de pessoas que se encontram em grande sofrimento psíquico e que foram procurar ajuda quando a situação já é extrema.
Nesses casos específicos, sempre conseguimos avanços e melhoras, mas o ponto que quero destacar é que cuidar da saúde mental é tão importante quanto os cuidados diários que temos com o corpo, alimentação, higiene.
Para avançarmos nessa questão, alguns pontos fundamentais deverão ser de nossa atenção:
Falar de cuidado com saúde mental é compreender que a expressão e manifestação dos sentimentos são aliados e não ameaças!
Para nos auxiliar que compreendamos, portanto, ao longo da vida, o que sentimos, é necessário que coloquemos em prática o exercício de falar, trocar, descrever e compartilhar sobre o que se sente.
Nós nos entendemos no mundo, nos instalamos nele, a partir do olhar de um outro. Esse outro maternal e paternal, dos cuidadores, que nos disseram quem éramos desde o princípio:
“Vai se chamar Alana como a avó! É linda e esperta como ela!”;
“Será Ronaldo como o jogador! Nasceu para ser um vencedor!”;
“Você é um bebê preguiçoso igual seu pai! Tomara que consiga dar a volta por cima e ser bem-sucedido!”;
“Bebê birrenta! Será brava igual a mãe!”;
Portanto “descolar” desse outro será o trabalho do nascimento em diante: dependemos daqueles outros, nossos cuidadores, inclusive para sobrevivermos, porém, somos sujeitos diferentes e não extensões destes, e é desse engodo que se instalam as perguntas que nos acompanham ao longo de toda a vida.
Como nos constituímos a partir dessas relações em que esses outros vão identificando e nos traduzindo quem e como somos, elas fazem parte da percepção que temos de nós mesmos:
“Verdade, mamãe sempre me disse que parecia com minha avó, não é que eu acho que ela tinha razão?! Adoro culinária e sou super religiosa como ela!”;
“Verdade mesmo, sou estourado que nem meu pai. Não tenho paciência com ninguém! Ele sempre me falou: Esse é meu menino! Valente como o pai, não leva desaforo pra casa!”
O trabalho cuidadoso e artesanal que nos recai é de ir separando o joio do trigo pacientemente, e que trabalho que isso dá! Pois, vamos aos poucos nos dando conta que os estereótipos que nos recobriram não explicam a total verdade sobre nós.
Em algum momento passamos a compreender que “gostamos de cozinhar e somos religiosos como nossa avó”, porém, que por outro lado, somos “carinhosos e amáveis”, características que nessa avó não se destacavam. Ou, que somos “impacientes e valentes como o pai”, porém, que “somos intensos nos relacionamentos amorosos, apaixonando-se fervorosamente a cada parceiro”, característica que não se via tão declaradamente neste.
Dessa feita, mal ou bem, as questões existenciais que sempre nos acompanham, pois pertencem-nos, batem à porta para fazer-nos lembrar:
“Em que medida me assemelho e em que medida me distancio dos valores, hábitos, comportamentos dos meus cuidadores?”;
“O que quero para mim e pra minha vida?”
“Quem sou eu?”
Somos muitas coisas que conseguimos compreender e identificar, mas também somos muitas outras que ainda estamos buscando reconhecer, ou seja, que nos escapam ao entendimento e compreensão.
Dentro desse campo basta assumir de acordo com o ditado popular:
Se a loucura se relaciona ao que não conseguimos compreender a respeito de nós mesmos e por isso mesmo amedronta; Se está no campo da impotência, do desconhecido, do sem-nome e sem-lugar; Então de loucos e moucos todos tempos um pouco!
Inclusive loucos foram aqueles que nos colocaram no mundo...
- “Loucura que passa pela genética!!!”, diz o outro só para descontrair.
Mas cá pra nós! De genético passam-se algumas heranças, mas para a loucura basta estarmos vivos que dela não se escapa nem com recusa braba!
Vamos e venhamos, todo mundo sente tristeza, solidão, insegurança, raiva, ansiedade, todo mundo guarda mágoas, assim como todo mundo tem manias. Agora vamos compreender:
Em que medida todos esses sentimentos indicam sinais de adoecimento mental em que se recomenda o acompanhamento de um especialista?
Os tratamentos em psicoterapia são indicados aos casos em que é percebido um estreitamento de possibilidades de resolução de conflitos e, em decorrência desse processo, a presença de um grande sofrimento psíquico.
São casos em que geralmente as pessoas apresentam uma sensação de falta de recurso, esgotamento de possibilidades para lidar com os problemas e, além disso, que sentem que os problemas normalmente se apresentam de maneira repetitiva e estereotipada, denunciando um ciclo vicioso.
Esse enrijecimento a respeito das possibilidades de saídas para os conflitos relacionais ou internos podem gerar alguns excessos nos comportamentos, como irritabilidade, sono, apatia, intolerância, agitação, isolamento social em demasia.
O sentimento interno de desorganização, desesperança e apatia podem afetar a rotina, a realização de atividades diárias e prejudicar os relacionamentos profissionais, familiares, amorosos.
Em resumo:
Quando há a percepção de perda de inspiração, desejos, vontades, criatividade;
Quando há a percepção de que hobbies e atividades de lazer que motivavam no passado hoje em dia não são mais prazerosas e que não existem outras substitutivas atualmente que exerçam essa função;
Quando há a sensação de perda de sentido no trabalho, nas relações afetivas e na vida de forma geral;
É hora de procurar ajuda!
Calma! Respire! Se você se encontra nesse momento, você merece encontrar um profissional que avance nessa caminhada com você nesse período que o possibilite resgatar sua autoestima, o brilho nos olhos, o desejo em estar junto de outras pessoas, seu interesse pela vida.
Além disso, para procurar um psicólogo ou psicanalista basta ter desejo em falar sobre si!
Para constar, existem diferenças entre os termos psicologia e psicanálise que por hora não serão abordadas.
Se as considerações desse texto não te couberam pessoalmente, elas também contribuem no seu olhar ao outro. Pessoas próximas a você podem estar necessitando desse cuidado especializado e indicação a um profissional. Cuidar da saúde mental também é exercitar a empatia com o outro!
Comente, participe, dialogue sobre suas experiências nas caixas abaixo!
Até breve!!
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