É bastante óbvio identificar qual especialista procurar se você sente dores no estômago, musculares, taquicardias ou se está com distúrbios do sono, por exemplo, mas no campo dos sentimentos, a coisa muda de figura! Se está angustiado, triste, deprimido, ansioso, agitado, medroso, inseguro, a pergunta que não quer calar é: Quem devo procurar, ou, quem pode me ajudar?
Talvez porque ao longo da vida recebemos mais informações sobre os cuidados com o corpo, higiene e prevenção de doenças, ficou mais fácil para as pessoas identificarem a gravidade e a urgência para procurarem outras especialidades da saúde que não as que trabalham com a subjetividade, com as emoções e sentimentos. Além disso, acredito que temos uma educação e orientações difusas e deficitárias no campo subjetivo também por conta do estigma social relacionado à expressão das emoções.
Assim, é com o intuito de fornecer mais elementos para esclarecimento de algumas das áreas dentro desse campo que este artigo pretende discorrer.
De início, podemos levar em conta o termo “terapia” que tem relação direta com a ideia de “tratamento do sintoma”. Therapéia vem do grego e é sinônimo de cuidado, restabelecimento da saúde e promoção de bem-estar. Hoje em dia temos diversos tipos de terapia disponíveis, desde de holísticas à terapia das cores, ficando a critério de cada um a abordagem que deseja buscar. Aqui vamos falar de alguns tipos específicos, especialmente três: a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise.
Psicologia
Para se tornar psicólogo é necessário a conclusão da graduação de psicologia e depois a regulamentação do profissional ao Conselho Federal de Psicologia. Portanto o profissional da área responde ao código de ética e atribuições descritas por este órgão regulador.
A etimologia da palavra vem de Psique (alma) e Logos (razão ou conhecimento). É um campo que se misturava aos conhecimentos filosóficos desde Sócrates ao final do século XIX, quando houve uma investigação mais criteriosa sobre o funcionamento mental e comportamental dos sujeitos. Nessa época, constituiu-se um consistente corpo teórico e com isso foi inaugurada a psicologia enquanto ciência.
O psicólogo trabalha a partir das teorias psicológicas do funcionamento mental. São correntes teóricas que estudam os processos mentais e subjetivos: sensação, percepção, atenção, memória, comportamentos, emoções, pensamentos, imaginação, linguagem.
Dentre elas estão a humanista, junguiana, psicanalítica, sócio-história, teoria centrada na pessoa, sistêmica, bioenergética, psicodrama, behaviorista, cognitivo-comportamental, fenomenológica e outras.
O objetivo da psicologia é diagnosticar, prevenir e tratar distúrbios mentais. Analisa a influência de fatores hereditários, ambientais e psicossociais sobre os sujeitos na dinâmica intrapsíquica. A única exclusividade da profissão é a aplicação de testes psicológicos que avaliam aspectos como a personalidade, inteligência e sociabilidade.
Suas áreas de atuações são muitas, indo desde o contexto clássico clínico, abrangendo outras como escola, hospital, organizações, jurídica, esportiva, social, do trânsito.
Psiquiatria
O psiquiatra pode atuar em todos os diagnósticos de transtornos mentais sejam eles leves, moderados ou graves. A formação é composta pela graduação em medicina com duração de 6 anos seguida da especialização em psiquiatria. Sua profissão também é regulamentada, portanto, pelo Conselho da área - o Conselho Federal de Medicina.
O psiquiatra é o único dos três que mencionaremos que está autorizado a prescrever medicamentos. Essas prescrições são indicadas sempre que auxiliarem nos tratamentos de transtornos mentais. Alguns também realizam psicoterapia. Lembrando que psicoterapia não é uma atividade exclusiva do psicólogo à exceção da aplicação de testes psicológicos. Por isso, o psiquiatra que realiza esse atendimento também atua a partir de uma – ou mais – perspectivas teóricas do funcionamento mental. Nesse sentido, há psiquiatras psicanalistas, junguianos, psicodramatistas, humanistas e por aí vai.
Apesar de alguns psiquiatras realizarem atendimentos psicológicos, é comum que ocorram trabalhos em conjunto com psicólogos ou psicanalistas. Nesse sentido, são tratamentos e olhares que se complementam.
Psicanálise
A psicanálise surgiu dos estudos e investigações de um médico vienense do século XIX chamado Sigmund Freud (saiba mais aqui). Ela trabalha a partir de uma técnica específica, um olhar próprio para o funcionamento mental. Considera que os ditos “transtornos mentais” tem como base o sentimento de angústia que se encontra em partes numa dimensão inconsciente. O objetivo da psicanálise centra-se em acessar o inconsciente auxiliando os pacientes a reconhecerem seus reais desejos e atravessarem as experiências da vida de formas menos enrijecidas.
A psicanálise não é de exclusividade da Psicologia e nem da Psiquiatria. Podem ser psicanalistas aqueles que se interessarem e iniciar seus estudos e análises pessoais na área. Por isso podemos ter engenheiros, artistas, advogados, médicos, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais realizando o percurso de formação psicanalítica e se tornando psicanalistas.
A formação em si é motivo de grande controvérsia. Como seu criador pontuou, ao psicanalista é necessário a familiaridade com o vocabulário e entendimento do funcionamento mental próprios da área além de supervisões e análise pessoal. Estabelecido o que chamamos de tripé fundamental para a formação - ensino, análise, supervisão – fica a critério de cada escola definir seus pré-requisitos a formarem o psicanalista.
Algumas escolas defendem um rigor maior com cargas horárias pré-definidas para aulas, supervisões e análises pessoais. Outras entendem que a formação do psicanalista passa pela busca do saber em psicanálise e que sua qualidade não se relaciona com o cumprimento de uma carga-horária obrigatória: “o tempo do inconsciente segue um tempo lógico”, como colocam, de acordo a corrente francesa ou lacaniana.
A psicanalise é um campo enorme que foi sucedida por diversos teóricos importantes, alguns dos mais famosos foram Anna Freud (a filha de Sigmund Freud), Melanie Klein, Donald Winnicott, Wilfred Bion, Elisabeth Roudinesco, Jacques Lacan.
Este artigo foi pensado para esclarecer alguns pontos de bastante questionamento de quem procura tratamento nessa área e se encontra em sofrimento.
Mas a bem da verdade é que não há porque se preocupar exatamente com a corrente teórica que você tem de buscar para que se repense em determinados comportamentos do dia-a-dia ou se recupere de algum transtorno e sofrimento mental.
A questão da área clínica, da qual represento, é que o que ela oferece é um contato com tempo, calma e cuidado, que vai proporcionar encontros que geram efeitos subjetivos e o consequente alívio dos sintomas. É isso que todos os tratamentos descritos aqui têm em comum.
No mais, o indicado é que busque alguém que se identifique, independente de corrente teórica e que não se preocupe com demais especificidades - como iniciar com medicação, ou realizar testes psicológicos. Se você for avaliado por bons profissionais, eles o conduzirão para os tratamentos adequados. Como dizemos na área: cada caso é um caso, cada sujeito é um sujeito, por isso não há tabela e protocolos. Se tem alguma indicação a ser feita é a de que busque por um especialista evitando decisões apressadas.
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