Não é superstição, é ciência!
A grande contribuição da psicanálise é a cura dos sintomas pela fala por meio da investigação do inconsciente. Seu método é a associação livre, onde o paciente deve falar o que lhe vier à cabeça, sem censura, e o motor do tratamento analítico é o que Freud chamou de transferência.
A Psicanálise entende que é de conteúdos inconscientes que podem surgir diversas fontes de sofrimento psíquico, os quais se manifestam em sintomas como ansiedade, angústia, compulsão, fobias, depressão.
Ao longo de suas investigações e registros, Freud sistematiza em uma de suas primeiras obras psicanalíticas, “Estudos sobre a Histeria”, de 1905, as conclusões sobre o funcionamento psíquico percebidas ao longo do tratamento de diversas pacientes histéricas.
Em um trecho, relata o questionamento de uma de suas pacientes sobre o tratamento:
“Você mesmo diz que meus padecimentos se ligam provavelmente a minhas circunstâncias e vicissitudes: nisso você nada pode mudar; de que maneira, então, quer me ajudar?" (P.427)
Ao que ele responde:
“De fato, não duvido que seria mais fácil para o destino do que para mim eliminar seu sofrimento: mas você se convencerá de que muito se ganha se conseguirmos transformar sua miséria histérica em infelicidade comum. Desta última você poderá se defender melhor com uma vida psíquica restabelecida." (P.427)
Freud descobre no decorrer de suas pesquisas que a origem dos sintomas neuróticos, histéricos, fóbicos, obsessivos, estava relacionada a desejos que foram recalcados, ou seja, não puderam ser manifestados socialmente em função da rígida vigilância social sobre os comportamentos das pessoas na época.
Não por acaso, a grande repressão social à manifestação da sexualidade e demais desejos afetavam de maneira especial as mulheres, já que a elas eram exigidas severas normas de conduta. Esse intenso controle social sobre os desejos, incidindo com mais intensidade sobre as mulheres, interferiram, assim, nos grandes índices de adoecimento desse público específico do que foi diagnosticado como "Histeria" (veja mais sobre esse tema aqui).
Assim, os desejos que violavam a moral vigente, permaneciam retidos no inconsciente. Esse afeto que era recalcado no inconsciente, basicamente, desencadeava os sintomas físicos neuróticos.
Portanto, a fala livre do paciente, em que este pudesse falar sobre os seus desejos rompendo o medo do julgamento ou a barreira da censura moral, possibilitava uma dissipação da energia antes represada, a qual o autor denominou de energia pulsional. Reinvocando pela fala esse afeto e buscando novas significações, essa energia deixava de se canalizar para a formação de sintomas.
Freud havia dado voz à loucura e aberto a possibilidade de ressignificação desse afeto outrora repreendido. Curou diversas pacientes de seus sintomas perturbadores e apresentou à academia uma nova alternativa teórico-metodológica na condução de tratamentos a pacientes chamados neuróticos.
Assim como o diálogo estabelecido com a paciente, a psicanálise consegue dissipar, atenuar, aliviar e curar sintomas psíquicos, porém, não promete a cura do sofrimento. Este continuará a se manifestar de acordo com os desafios e entraves que se oferecem ao longo da caminhada de cada um. A diferença é que, restabelecidos caminhos psíquicos alternativos, haverá outra possibilidade ao funcionamento mental para além da formação de sintomas.
Ou seja, o tratamento psicanalítico pode ajudar o indivíduo a lidar melhor com suas dificuldades, com as vicissitudes da vida, mas não evita que situações sofridas e angustiantes ocorram. Na prática surge como alternativa para lidar com o obscuro, a loucura, com o sem sentido, a falta de palavras e tudo o que, enquanto humanos, nos gera sofrimento.
Pensando bem, a análise ajuda a gente a se orientar nos desorientando, avançando no nosso íntimo, buscando melhores conciliações da nossa adaptação social com relação aos nossos desejos. Essa reflexão faz sentido para você?!
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Até a próxima!
REFERÊNCIA:
SIGMUND FREUD, A PSICOTERAPIA DA HISTERIA. Em: OBRAS COMPLETAS, VOLUME 2: ESTUDOS SOBRE A HISTERIA (1893 – 1895). 1ª EDIÇÃO. SÃO PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 2016.